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Mitos, verdades e inovações em câncer de mama

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Há ainda muito desconhecimento sobre o tumor. Simpósio traz ao Brasil novidades apresentadas no maior congresso mundial de Oncologia.

 

Mesmo com a alta incidência do câncer de mama, que só fica atrás do câncer de pele não melanoma tanto no Brasil quanto no mundo, ainda há muito desconhecimento sobre a doença. A falta de informação e a divulgação de dados incorretos dificultam o diagnóstico precoce, podendo atrasar o tratamento.

Entender a necessidade dos cuidados e ter informações precisas pode ser o maior motivador para as mulheres se prevenirem. Com esse objetivo, o oncologista Antonio Buzaid, um dos fundadores do Instituto Vencer o Câncer (IVOC), responde 10 perguntas sobre o câncer de mama.

Buzaid é um dos coordenadores do VIII Simpósio internacional multidisciplinar de câncer de mama, que será realizado nos dias 28 e 29 de junho, em São Paulo. Essa edição do congresso continua com foco multidisciplinar, com palestrantes nacionais e internacionais. “O congresso irá abordar todas as áreas do tratamento do câncer de mama incluindo cirurgia, radioterapia, hormonioterapia, terapia alvo e imunoterapia. Tudo de novo da ASCO será apresentado no congresso”, avisa o oncologista, referindo-se às inovações apresentadas no 55º Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), o maior evento mundial de Oncologia do mundo, que foi realizado de 31 de maio a 4 de junho em Chicago (EUA).

O oncologista cita o maior destaque em câncer de mama: o uso de uma classe de remédios chamados de inibidores de CDK4/6. “Um deles, o Ribociclibe, aumentou a sobrevida das pacientes. Salva vida de mulheres jovens”. O estudo trouxe uma nova perspectiva para pacientes na pré-menopausa, para que recebam inibidor de CDK4/6 junto com supressão ovariana.

Há ainda estudos que oferecem novas visões, como a possibilidade de no futuro fazer biópsia não apenas em uma área no tumor, mas em várias áreas, para acessar características que podem influenciar o tipo de tratamento em pacientes com diagnóstico de câncer de mama HER2 positivo. Também trabalho com análises sobre escolha de quimioterapia ou supressão ovariana com hormonioterapia na mulher em pré-menopausa, considerando o estágio da doença – os dados ajudarão as discussões com as pacientes sobre as abordagens de tratamento. Ainda o estudo com o Atezolizumabe com pacientes de câncer de mama triplo negativo, medicamento que recentemente foi aprovado no Brasil para câncer de mama metastático na primeira linha. “O Brasil foi o segundo país a aprovar, depois dos Estados Unidos”, destaca Buzaid.

Confira respostas do oncologista Antonio Buzaid, um dos fundadores do IVOC, a mitos e verdades sobre a doença.

 

– Quais os fatores de risco mais importantes na causa do câncer de mama?

Os fatores mais importantes são uma menarca (primeira menstruação) muito precoce e a menopausa bem tardia – a pessoa tem grande exposição aos hormônios femininos por muito mais tempo; a falta de amamentação e ausência de gravidez aumentam o risco. A mulher que tem múltiplos filhos, amamenta e faz isso precocemente protege mais contra o câncer de mama.

 

– Os fatores genéticos podem aumentar o risco de câncer de mama?

Sim. Há certos genes que quando mutados, isto é, alterados, podem aumentar muito o risco de câncer de mama. O mais famoso e conhecido é o BRCA. Por exemplo, a Angelina Jolie teve mutação do BRCA1 e decidiu tirar as duas mamas e os ovários: decisão correta. A maioria das mulheres, entretanto, não tem mutações genéticas quando adquirem um câncer de mama e não está indicado tirar os ovários das mulheres que não têm alterações no BRCA.

 

– Os genes herdados dos pais versus as questões ambientais, que incluem alimentação e hábitos de vida: qual é o fator mais importante para ter um câncer de mama?

Em geral o fator ambiental é mais importante do que o fator genético e nele nós podemos atuar com alimentação e hábitos de vida saudáveis.

 

– Por que uma mulher deve fazer mamografia?

Porque a mamografia detecta cânceres pequenos, e quanto menor o bandido, maior a chance de cura.

 

– Tem se observado um aumento na incidência de câncer de mama em mulheres jovens, por volta de 30 anos. Pode ter alguma relação com a dieta? Beber bebida alcoólica aumenta o risco de câncer de mama?

Provavelmente, sim. Um estudo grande sugere que a chamada dieta inflamatória — muito refrigerante, carne vermelha e carboidratos, como doces por exemplo — aumenta o risco de câncer de mama em mulheres jovens. Atenção à alimentação saudável. E, sim, quanto mais você bebe, maior o risco de câncer de mama.

 

– O uso da pílula anticoncepcional aumenta o risco de ter um câncer de mama?

Provavelmente, sim. O maior estudo recentemente publicado mostrou um pequeno aumento, da ordem de 20%. Mas mostrou também uma diminuição global dos cânceres. Por exemplo: reduziu câncer de ovário e de intestino grosso. Então aumentou um pouco o câncer de mama, mas reduziu outros cânceres, diminuindo no global a incidência. Eu diria relativamente seguro.

 

– A reposição hormonal aumenta o risco de câncer de mama?
A literatura tem dados conflitantes, isto é, não são uniformes. Há estudos que mostram de fato um aumento, principalmente com a reposição prolongada, mais do que 5 ou 10 anos, e outros que não mostram aumento nenhum. A meu ver, provavelmente existe um aumento, mas é pequeno e deve-se pesar qualidade de vida com aumento de risco.

 

– Existe algum teste que pode ser feito no próprio câncer para evitar que uma mulher tome uma quimioterapia preventiva, que nós chamamos de quimioterapia adjuvante?

Sim. Há vários testes genéticos — os dois mais populares no mercado se chamam Oncotype e Mammaprint, cada um deles indicado em situações específicas. Não é para todas as pacientes; existem critérios apropriados que são usados para solicitar os exames. Infelizmente, ainda não estão cobertos pelas seguradoras médicas e têm um custo elevado.

 

– Pacientes que têm um câncer de mama avançado, isto é, metastático, contam com algum remédio novo no Brasil?

Sim, dois remédios novos foram aprovados no Brasil para câncer de mama que têm receptores hormonais e são HER2 negativos: Palbociclibe e Ribociclibe. Eles inibem uma via especial da célula cancerosa e claramente aumentam a eficácia da hormonioterapia. Hoje nós quase não usamos a quimioterapia na primeira linha de tratamento e tentamos usar em geral hormonioterapia combinada com um desses dois medicamentos.

 

– Receber um cuidado multidisciplinar de alta qualidade aumenta a chance de curar um câncer de mama?

Sim. Estudos mostram que se você é bem cuidado por um bom mastologista, um bom oncologista e um bom radioterapeuta, as chances de cura são maiores.

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