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Outubro Rosa: A importância do autocuidado e atenção para a saúde integral da mulher

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Chegando próximo a três décadas, movimento melhorou o cenário da doença, mas pesquisas apontam que ainda há muito desconhecimento. É essencial conhecer fatores de risco, diagnóstico precoce e opções de tratamento.

 

O Outubro Rosa se aproxima de completar seus 30 anos – em 1990, a Fundação Susan G. Komen criou o laço rosa e distribuiu aos participantes da primeira Corrida pela Cura realizada em Nova Iorque. Tinha início uma campanha que se espalharia pelo mundo e teria papel fundamental na conscientização e disseminação de informações sobre o câncer de mama. No Brasil, o marco do começo do movimento é a iluminação rosa do Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo, em 2002.

Três décadas depois é inegável apontar os avanços conquistados na sociedade graças a essa campanha mundial. Mas apesar da adesão massiva de entidades, unidades de saúde, profissionais da área, empresas em todo o país para divulgar dados importantes sobre o tema, ainda há muitas dúvidas acerca da doença, especialmente sobre os fatores de risco e informações essenciais para que se possa fazer a prevenção e o diagnóstico precoce.

Esse desconhecimento foi comprovado em pesquisa realizada em parceria pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer e a HSR Health. Em um levantamento com 500 pessoas, de 18 a 65 anos de todas as classes sociais, constatou-se que as mulheres querem saber mais sobre fatores de risco e prevenção do câncer de mama e desconhecem os hábitos que contribuem para aumentar o risco do desenvolvimento do tumor: 81% das participantes da pesquisa consideram que a prevenção precisa ser mais divulgada.

Uma das conclusões aponta que 9 em cada 10 brasileiras relacionam a doença ao histórico familiar, quando a questão da hereditariedade nesse tipo de tumor, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), corresponde de 5% a 10% dos casos. Apesar de atingir uma pequena parcela da população, a hereditariedade é um fator importante para o câncer de mama e, quando está presente, aumenta muito o risco de desenvolvimento do tumor. A pesquisa também demonstrou que de cada 10 mulheres, 5 consideram o cigarro como fator de risco para o câncer de mama. Entretanto, o fumo é considerado fator com limitada evidência para esse tipo de tumor; o Inca aponta como principais fatores de risco que devem ter atenção especial o excesso de gordura corporal, o consumo de bebidas alcoólicas e o sedentarismo. 

As dúvidas e a falta de informação aparecem também nos resultados da pesquisa Câncer de mama hoje: como o Brasil enxerga a paciente e sua doença?, realizada pelo IBOPE Inteligência com mais de 2 mil brasileiros, em uma iniciativa da Pfizer com o Coletivo Pink, da qual o Instituto Vencer o Câncer (IVOC) faz parte. O levantamento foi feito através de uma plataforma on-line, nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Curitiba e na cidade de São Paulo.

Na pesquisa, 71% dos entrevistados acreditam que a herança genética seria a principal causa do câncer de mama. Já os hábitos de vida, que têm maior risco para a doença, foram considerados por 24% dos participantes. A relação do desenvolvimento do tumor e a ingestão de bebidas alcoólicas foi identificada somente por 10% das mulheres e 8% dos homens. A questão do excesso de peso também gerou dúvidas: 39% não souberam dizer se esse pode ser um fator de risco para esse tumor e 24% acreditam que essa relação não é verdadeira. Somente a necessidade da prática de atividade física como forma de prevenção foi reconhecida pela maioria (58%) dos participantes. Outras questões importantes que aumentam as chances de desenvolver o tumor não eram de conhecimento da maioria, como não ter filhos e ter a primeira menstruação muito jovem. A maior parte (54%) tem dúvidas ou não acredita no papel de proteção que a amamentação exerce contra o desenvolvimento do câncer de mama.

 

Diagnóstico precoce em risco por falta de informação

A falta de conhecimento não se restringe às questões de prevenção, e se estende também a dados fundamentais para garantir um diagnóstico precoce. A pesquisa Câncer de mama hoje: como o Brasil enxerga a paciente e sua doença? também apontou que as brasileiras não têm noção da importância da mamografia para garantir um diagnóstico precoce: quase 80% acredita que o autoexame das mamas é a principal forma de descobrir um tumor no início. E 35% das entrevistadas com mais de 55 anos acham que se o exame de mamografia não detectar alterações, a paciente pode seguir com a prevenção apenas com autoexame.

O oncologista Fernando Maluf, um dos fundadores do IVOC, lembra que descobrir o tumor na fase inicial aumenta significativamente as chances de cura. O médico recomenda fazer o autoexame mensalmente, pois ajuda a conhecer melhor o próprio corpo e a notar alterações.  “Se perceber algo diferente nas mamas, busque sempre ajuda médica”, alerta. Mas Maluf avista que a única maneira de realmente identificar o câncer de mama nos estágios iniciais é fazendo periodicamente a mamografia. 

Justamente para chamar atenção das mulheres para saber que o autoexame da mama é insuficiente para uma completa detecção precoce que foi criado o game interativo Mamaze, uma iniciativa social desenvolvida pela agência DPZ&T em parceria com a UmStudio Code & Motion, com apoio científico dos institutos Vencer o Câncer e Oncoguia.

O game tem três fases com labirintos que remetem a movimentos do autoexame – depois de concluir o desafio, as usuárias avançam para o próximo estágio, um quiz demonstrando que os cuidados preventivos vão além do autoexame das mamas. As participantes recebem ainda uma mensagem de incentivo para fazer mamografias regularmente para garantir o diagnóstico precoce.

O game Mamaze pode ser acessado pelo link https://mamaze.com.br

 

Saúde integral da mulher

A atenção para a saúde integral da mulher é uma questão que precisa estar presente tanto na prevenção quanto após o diagnóstico, desde as fases iniciais do tratamento e seguir para a vida toda, como hábitos que vão melhorar as condições gerais da paciente para evitar recidiva e ter mais disposição e qualidade de vida.

Quando falamos em saúde integral é preciso notar vários aspectos, que passam pelos bons hábitos de vida com uma boa alimentação, prática de atividade física, atenção à ingestão de bebidas alcoólicas, sem tabagismo. No caso das pacientes oncológicas, inclui ainda acompanhamento médico e de equipe multidisciplinar adequado, acolhimento e até considerar a preservação da fertilidade antes da mulher iniciar o tratamento.

Na questão da alimentação, o nutrólogo Eduardo Rauen avisa que não existem alimentos milagrosos: “O que existe é uma alimentação milagrosa, ou seja, um estilo de vida que diminui a chance, previne esse tipo de lesão, como o câncer de mama”. Rauen ressalta que o ideal é manter uma alimentação saudável como a Organização Mundial da Saúde preconiza, com cinco porções entre saladas, legumes e frutas, com bastante fibra, como aveia, chia, folhas e também diminuindo a carne vermelha e dando preferência para as carnes brancas, como peixe e frango. “Esse é um estilo de alimentação, estilo de vida que previne não só o câncer de mama, mas outros tumores comuns, principalmente câncer de intestino, do cólon, região final do intestino grosso”. 

O nutrólogo lembra ainda que é preciso ter uma união de coisas: alimentar-se bem com a dieta preconizada pela OMS e diminuir embutidos, pois peito de peru, salame, carnes embutidas aumentam os riscos de câncer de intestino e de outros tipos de tumores. “Não adianta comer industrializado, comer embutidos e tentar fazer atividade física”. Ele chama atenção para a ingestão de bebidas alcoólicas, explicando que o uso diário, mesmo de uma porção normal, uma taça de vinho ou uma lata de cerveja, que tem 14 gramas de álcool, aumenta a incidência de câncer de mama. 

Quanto à prática de atividade para uma vida saudável, Rauen destaca que é preciso diferenciar: “atividade física é qualquer movimento que você faça, subir escada, andar, sair da cama e ir até a cozinha. Exercício físico é quando faz de forma mais ordenada, seja uma caminhada de meia hora ou fazer um transport por uma hora. Esporte é mais coordenado, tem regras e competição”, afirma. “Importante é saber que para não ser sedentário precisa fazer no mínimo 150 minutos de atividade física semanal, que previne não só ganho de peso, mas vários tipos de tumores como de ovário, de endométrio, de intestino e de mama. A atividade física durante o tratamento é preconizada para melhora da terapêutica”.

 

Preservando a fertilidade antes do tratamento

Diante de um diagnóstico de câncer de mama – ou outro tumor – um aspecto importante a ser considerado, especialmente com o aumento da incidência da doença em mulheres mais jovens, é a preservação da fertilidade, pensar na vida após o câncer. A ginecologista Silvana Chedid, especialista em reprodução humana, comenta que com o avanço nos tratamentos as pacientes têm grandes possibilidades de superar a doença, mas também correm grande risco de perder a fertilidade após quimioterapia e radioterapia. 

Silvana avisa que existem várias alternativas para preservar a fertilidade das mulheres, que devem ser discutidas entre paciente, oncologista e especialista em reprodução humana. O importante é saber que nenhuma delas afeta a evolução da doença. “O efeito tóxico ovariano provocado por drogas antineoplásicas varia de acordo com a dose cumulativa e com a idade da paciente, afetando principalmente pacientes mais velhas”. A estimativa é que somente 30% das pacientes jovens submetidas à quimioterapia retomem sua função ovariana.

A técnica mais utilizada é a vitrificação de óvulos (72% dos casos), com criopreservação (congelamento) de óvulos maduros que posteriormente podem ser utilizados em procedimento de fertilização in vitro. Outra técnica é a criopreservação do córtex ovariano, que pode permitir, com o transplante posterior do tecido criopreservado, reestabelecer a função ovariana e até a possibilidade de conseguir gestações espontâneas, além de poder evitar menopausa precoce, ao manter níveis hormonais normais. Silvana cita ainda a transposição de ovários como técnica de preservação da fertilidade: “consiste em afastar os ovários do campo de irradiação para evitar a exposição direta à radioterapia, e evitar assim o dano de ser atingido pelo campo de radiação”.

 

Conhecendo os tratamentos de câncer de mama

“O tratamento do câncer de mama teve muitas evoluções nos últimos tempos. Desde os avanços nas cirurgias, que são menos invasivas, até novos medicamentos mesmo para casos avançados”, comenta o oncologista Fernando Maluf. O tratamento pode envolver cirurgia, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia, imunoterapia e terapia alvo específico. “Para decidir as melhores opções para cada paciente, levamos em conta diversos fatores como características do tumor, idade da paciente e linfonodos axilares comprometidos”.

Cirurgia – retirada do tumor. Geralmente nos tumores pequenos a cirurgia remove a parte da mama que contém a lesão (quadrante ou setor) e é feita a pesquisa do linfonodo sentinela, onde as células tumorais têm mais chance de se alojar caso tenham escapado. Em tumores maiores pode ser preciso fazer mastectomia – retirada total da mama.

Quimioterapia – medicamentos que atacam a célula cancerosa diretamente; a quimioterapia ataca predominantemente a célula cancerosa em relação ao tecido normal. A maior parte das drogas quimioterápicas atua no DNA da célula, que fica no núcleo e controla tudo que a célula faz.

Radioterapia – poderosos raios-X (às vezes gama) que danificam preferencialmente as células tumorais, podendo levá-las à morte. 

Hormonioterapia – atua sobre hormônios do corpo para atacar a célula cancerosa, bloqueando a ação hormonal dos tumores que dependem de hormônios para viver. Se retira, por exemplo, o estrógeno da mulher, as células cancerosas que dependem do hormônio para viver, morrem.

Imunoterapia – importante estratégia para vencer o tumor. Ela estimula o sistema imune para que ele ataque as células cancerosas. 

Terapia Alvo específico – utiliza drogas que bloqueiam pontos (alvos) específicos da célula. Ex. a proteína HER 2 fica na superfície da célula cancerosa – se ela está em excesso (hiperexpressão), a célula cancerosa não para de proliferar. No tratamento, um anticorpo ataca essa proteína e leva à redução da célula cancerosa, aumentando a eficácia da quimioterapia. Bloquear a ativação desse HER 2 leva a um forte efeito anticâncer em tipos de mama que tem hiperexpressão dessa proteína. Existem também medicamentos que bloqueiam a formação de vasos sanguíneos, entre outros tipos.

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