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Câncer de ovário: em contraponto ao diagnóstico tardio, avanços genéticos e estudos ajudam a melhorar o cenário da doença

Câncer de ovário tem diagnóstico difícil. Saber o histórico familiar é essencial para prevenção.

 

Ilustração de câncer de ovário.

 

Eles são duas glândulas que parecem amêndoas, de cerca de 3 cm de comprimento por 1,5 cm de largura e 1 cm de espessura. O tamanho não é proporcional à importância de sua função no corpo da mulher: cuidam da produção dos hormônios sexuais femininos, da produção e armazenamento dos óvulos. A dimensão também não faz jus ao que acontece quando o câncer acomete esse órgão: mais de 295 mil mulheres no mundo são diagnosticadas anualmente com câncer de ovário e mais de 184 mil mortes são causadas todo ano pela doença. É por isso que precisamos falar sobre o ovário.

Também é por isso que 8 de maio é o Dia Mundial do Câncer de Ovário: para reunir pacientes, familiares, apoiadores e toda a sociedade para aumentar a conscientização sobre esse tumor. No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa de 2018 era de 6.150 novos casos e o Atlas de Mortalidade de Câncer de 2.015 registrou 3.536 óbitos. É considerada a segunda neoplasia ginecológica mais comum – ficando atrás apenas do câncer do colo de útero – e a que tem menor taxa de sobrevivência dos cânceres femininos.

“Aproximadamente 70% das mulheres com câncer de ovário não são diagnosticadas antes do tumor atingir estágios avançados da doença e isso dificulta o tratamento e diminui as taxas de sobrevida em 5 anos”. A declaração da ginecologista Andréa Massad Ribeiro explica os números alarmantes da doença. Por outro lado, a médica destaca que mulheres com diagnóstico da doença em estágios iniciais conseguem uma taxa de sobrevida em 5 anos de aproximadamente 80%. “É de extrema importância que as mulheres saibam dessa doença”.

Conforme a Coalização Mundial de Câncer de Ovário, responsável pela iniciativa que criou a data, as taxas de sobrevida do tumor em cinco anos variam, no mundo, de 30 a 45% enquanto as do câncer de mama ficam entre 80 e 90%. “O câncer de ovário preocupa mais do que o de mama, porque de mama você consegue um acompanhamento mais efetivo”, avisa a oncologista e integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer, Juliana Pimenta. “Não conseguimos fazer diagnóstico precoce porque não há exame de rastreamento efetivo; os estudos não demonstram benefício em fazer. Esse tumor cresce muito rápido, mesmo fazendo a ultrassonografia transvaginal – é comum chegar paciente que fez exame seis meses antes e estava tudo normal. É uma doença de intervalo: entre um exame e outro, aparece a doença avançada”.

O câncer de ovário é chamado de tumor silencioso e essa característica é justamente um dos motivos dos diagnósticos tardios. “Pacientes com câncer de ovário não apresentam sintomas específicos; queixam-se de desconforto abdominal, mudança de hábito intestinal, meteorismo, uma perda inexplicável de peso concomitante e ganho de massa abdominal. Essas queixas são consideravelmente inespecíficas e isso dificulta um diagnóstico precoce da doença”, alerta Andréa. Ela considera importante a conscientização da população para que as mulheres façam acompanhamento mais frequente com o ginecologista. “O câncer de ovário não apresenta nenhum exame específico de rastreio; um ultrassom transvaginal poderia ajudar a identificar alterações precoces. Seria de suma importância a realização de pelo menos um ultrassom transvaginal anualmente para avaliação dos ovários”.

 

De olho no histórico familiar

Os avanços na área genética permitiram melhorar o cenário da doença, já que cerca de 10% dos tumores de ovário podem ser causados por fatores genéticos. “O mais comum dentre esses fatores são as mutações BRCA1 (36% a 46% podem desenvolver câncer) e BRCA2 (10% a 27% podem desenvolver câncer) ”, avisa Andréa.
Por isso, complementa Juliana, mulheres com mutação do BRCA têm indicação de retirada dos ovários. “A recomendação é de cirurgia profilática. É preciso ficar atento à história familiar, se tem diagnóstico precoce de câncer de mama ou de ovário ou muitas pessoas com histórico de tumores, para fazer avaliação genética. Todas as pacientes com diagnóstico têm indicação para fazer a avaliação”.

Andrea fala dos outros fatores de risco para o desenvolvimento esporádico de câncer de ovário: idade avançada, obesidade e síndrome dos ovários policísticos. “A prevenção começa com informação sobre a doença, o que permite à mulher ficar atenta a qualquer mudança inicial em seu corpo; dieta com uma alimentação saudável e não consumir comidas inflamatórias (como álcool, carboidratos, chocolates etc.) e exercícios físicos regulares. Hábitos de vida saudáveis são o primeiro passo para evitar doenças”.

 

Tratamentos e avanços

O tratamento é cirúrgico e Juliana recomenda, sempre que possível, que a cirurgia seja feita com cirurgiões especializados nesse tipo de tratamento: “É importante ter profissionais especializados, que foquem especialmente no tratamento dessas doenças, cirurgiões oncológicos, tratamento em centros especializados. Sabemos que tem impacto em relação à sobrevida”.

“Na grande maioria das vezes pode fazer quimioterapia. Têm tratamentos que estão sendo estudados para alguns tipos de câncer de ovário, os mais recentes na área de mutação de BRCA, inibidores de PARP – uma medicação já está aprovada no Brasil pela Anvisa, mas ainda não está no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde, reguladora dos planos de saúde) nem no SUS. Acreditamos que deve estar no próximo rol, em 2020”, informa a oncologista. “Para as que não têm mutações, há tratamento antiangiogênico e existem estudos para avaliar uso de imunoterapia. Há ainda estudos para avaliar se pacientes sem mutação BRCA teriam benefícios com inibidores de PARP”.
#ovariancancerday

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