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Câncer de rim: Precisamos conversar sobre essa doença

Tumor, ainda bastante desconhecido e mais frequente em homens, foi o único que teve mudança 100% no tratamento nos últimos 14 anos.

Logo da campanha Green Lips de conscientização do câncer de rim.

“We need to Talk”. “Precisamos Conversar”. Esse é o lema destacado este ano para chamar atenção ao Dia Mundial do Câncer de Rim, 20 de junho, promovido pelo International Kidney Cancer Coalition (IKCC) com o apoio de várias entidades, entre elas o Instituto Vencer o Câncer (IVOC). Pela primeira vez o IKCC traz a campanha Green Lips para o Brasil para ampliar a ação de conscientização global nas redes digitais. A iniciativa inclui também um desafio de maquiagem entre blogueiras.

O chamamento para estimular a conversa sobre o câncer de rim é essencial, considerando várias peculiaridades desse tipo de tumor. “É importante destacar, por exemplo, que não está entre as dez principais neoplasias mais frequentes no Brasil e talvez, por esse motivo, não falam desse assunto. A maior parte das pessoas nunca ouviu falar”, comenta Ana Paula Garcia Cardoso, oncologista clínica do hospital Albert Einstein e colaboradora do Comitê Científico do IVOC. “É dez vezes menos frequente que câncer de próstata, que é o mais frequente nos homens. Enquanto há no país 6.500 casos de câncer de rim por ano, são 68 mil de próstata”. A comparação com os tumores de próstata se dá, explica a médica, porque o tumor renal é duas vezes mais frequente nos homens do que nas mulheres.

“Esse é mais um motivo pelo qual precisamos falar sobre essa doença, já que o homem tem menos costume de procurar o médico. 60% dos brasileiros homens na faixa etária dos 50 anos nunca procuraram um urologista. Se não procuram urologista para exames básico de prevenção especialmente de câncer de próstata, imagine sobre câncer de rim”, chama atenção Ana Paula. Por esses motivos, ressalta, esse tipo de tumor acaba sendo pouco diagnosticado e pouco comentado. Também porque os fatores de risco são menos conhecidos. “Sabemos que está relacionado ao cigarro e à obesidade, inclusive porque a incidência tem aumentado com as mudanças de hábito da população, com hábitos de vida mais urbanizados. Também está relacionado à hipertensão, ao uso de analgésicos, doenças crônicas no rim, insuficiência renal e cálculo renal”.

Como não há exame de rastreamento do tumor renal nem sintomas na fase inicial, a médica avisa que é importante estar atento aos sinais do corpo e fazer exames de prevenção geral. “Existem sintomas que não são relacionados ao rim, mas que podem dar a possibilidade de o médico pedir, por exemplo, ultrassom ou tomografia de abdômen. Cerca de 30% dos pacientes são diagnosticados com a doença avançada. Nesses casos, já podem apresentar sintomas como aumento de volume abdominal, sangramento na urina e dor. É importante ficar atento à saúde. Temos que saber quando há alguma coisa errada com nosso organismo”.

 

Tratamento mudou 100%

Um dos aspectos indicados por Ana Paula que aumentam a importância de se falar sobre a doença, para que as pessoas saibam o que está acontecendo e o que há de novo, é o aumento nas opções de tratamento. “De 2005 para cá, ou seja, em menos de 14 anos, o tratamento do câncer de rim mudou 100%. Hoje não se usa nada que se usava em 2005. São praticamente 14 novas drogas e combinações nesses 14 anos que não são baseadas em quimioterapia, que era o tratamento convencional. São baseadas em terapia de alvo molecular e imunoterapia. É a única cujo tratamento mudou 100%, até porque nunca respondeu bem ao tratamento padrão de quimioterapia”.

A oncologista destaca outra boa notícia: o fato de pela primeira vez uma dessas terapia de alvo molecular ter sido recentemente incluída no Sistema Único de Saúde (SUS). “Os novos tratamentos trazem mudanças de perspectiva de vida. Aumentou mais do que três vezes o tempo de vida dos pacientes, com melhora e ganho de qualidade de vida no tratamento”.

Convivendo há quase uma década com um tumor renal, Arnaldo de Almeida Prado Filho tem experimentado os benefícios oferecidos pelos avanços nos tratamentos. Ele teve o diagnóstico no dia 9 de dezembro de 2009 porque foge à regra de grande parte dos homens, que não têm o hábito de acompanhar a saúde: descobriu fazendo um check up, sem qualquer sintoma da doença. O câncer foi descoberto durante um ultrassom e ele logo passou por uma cirurgia retirando o rim em que estava o tumor. Do médico, recebeu o aviso: ‘leve sua doença como leva a pressão alta. Tem que controlar’.

Nos primeiros anos fez tratamento com quimioterapia oral. “Foi uma maravilha ver meus filhos casarem, os netos nascerem”, comemora o sucesso da medicação sobre o tumor. Depois, entrou em um estudo de imunoterapia que para ele não funcionou e agora, há pouco mais de dois meses, experimenta um novo medicamento, terapia alvo de nova geração. “Estou me dando maravilhosamente bem com ela. Vamos ver se dá o resultado esperado”, comemora, comentando que sua qualidade de vida melhorou: “antes eu ia no banheiro de 6 a 9 vezes todo dia. Eu conseguia trabalhar, mas tinha que fazer pausas. Com essa, trabalho tranquilo. Tenho fazendas no Brasil e no Paraguai”.

Ele conta como administra o tumor renal há 10 anos: não faz buscas sobre a doença na internet nem pensa no câncer – só na semana em que vai fazer os exames. No resto do tempo, toma os remédios, dorme bem, sai cedo e trabalha até meio-dia, descansa e volta ao escritório. “Antigamente eu ficava a semana na fazenda do Paraguai. Hoje fico três, quatro dias. Eu doso melhor. Acho que a pessoa tem que saber o que pode ou não pode”, opina. “Eu tomo remédio e confio no médico. Nunca fui em curador nem tomei garrafada, como se diz por aí. Aparece demais, remédios feitos com plantas que o povo oferece. Nunca fiz”.

A quem vivencia o desafio de conviver com tumor renal, sua dica é: “Não se precipite. Em tudo na vida, quando Deus fecha uma porta, você entra que abre uma janela. Às vezes abrem muitas janelas, melhores do que a porta que se fechou atrás. O importante é transpirar e inspirar”.
Prado avisa que a sua vida não mudou por causa da doença: continua trabalhando, sonhando e fazendo mais empreendimentos. “Hoje já estou treinando mais os filhos. Não sei até que ponto vou aguentar. Vou tocando e confiando no meu médico – eu vou tomar injeção na barriga que não sei nem para que serve”, diz. A esposa passa a informação: “É para os ossos”. Ele sorri. “Eu nem penso. Toco a vida”.

 

Novidades em encontro internacional

O 55º Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), que reúne os maiores especialistas do mundo e traz as grandes novidades em câncer, teve importantes trabalhados apresentados na área de câncer de rim. O oncologista Fernando Maluf, um dos fundadores do IVOC e membro do IKCC, destaca uma atualização importante de estudo que comparou o imunoterápico de nova geração Pembrolizumabe com uma droga que bloqueia a vascularização do tumor, Oxitinibe, comparado com outra droga que bloqueia a vascularização do tumor chamada Sunitinibe. “Esse estudo mostrou que a combinação do antiangiogênico mais imunoterápico versus antiangiogênico isoladamente promoveu uma redução do risco de progressão ou morte de modo muito importante, independente do grupo de risco dos pacientes. Houve também aumento na sobrevida global com redução do risco de morte da ordem de 47%. Foi quase o dobro de resposta do tumor em vários sítios da doença”.

 

Teste seu conhecimento e aprenda

A campanha do #worldkidneycancerday traz um teste que ajuda a entender mais sobre causas, sintomas e tratamentos do câncer de rim, além de insights que explicam porque é tão importante conversar sobre a doença. Participe do Quiz.

  • O câncer de rim é aproximadamente duas vezes mais frequente em homens do que em mulheres – e não se sabe exatamente porquê;
  • É preciso conversar sobre subtipos para que os pacientes entendam melhor suas opções de tratamento;
  • 90% dos pacientes considerariam participar de estudos clínicos, mas apenas 30% são convidados;
  • 96% dos pacientes de câncer de rim reportam ansiedade ou medo de recaída – e mais da metade nunca comentou sobre isso com os profissionais de saúde;
  • 25% dos pacientes não têm conhecimento sobre muitas terapias importantes.

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